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Estava na praia, sentada na areia molhada de olhos fixos na minha pequena que galgava as ondas feliz, numa pequena prancha quando ouço mais uma vez: “ bola de berlim, bolinhas, bolacha americana”… eu gosto delas sem creme pensei…

Sorrio…bem, eu gostava delas com creme na minha infância, quando na Foz passava no estreito areal a senhora de saias compridas e um avental preto com vários bolsos que trazia um cesto com mini bolas de Berlim. Vendia um conjunto de 6 delas, com um fabuloso creme com leve trago a limão…

A bola de Berlim, deu-me uma ideia! Que tal falarmos um pouco sobre Diabetes Gestacional (DG)? É comum… Causa pânico muitas vezes e em outras é completamente negligenciado… nem 8, nem 80.

O que é isso da DG?? Na gravidez ocorrem várias alterações no metabolismo materno, levando a uma situação de “estado diabetogénico”. Por outras palavras há uma dificuldade de o açúcar entrar nas células causando elevados níveis elevados de glicemia que podem afetar mãe e feto.

Sabe-se que quando ocorre DG e este não é corretamente monitorizado existe um risco aumentado de excesso de peso no recém-nascido podendo conduzir a partos traumáticos, por outro lado há risco aumentado de parto pré-termo com imaturidade respiratória e ainda risco aumentado de o recém nascido ter hipoglicemias nas primeiras horas pós-parto que obrigam a monitorização apertada. Na mãe existe risco aumentado de desenvolver estados hipertensivos na gravidez e de vir a desenvolver diabetes mais tarde.

Não se preocupem no entanto muito com esta entidade. Porquê?

Toda a grávida é sujeita ao rastreio de DG… a não ser que não seja de todo vigiada… mas nessa situação este será o menor dos seus problemas…

No primeiro trimestre é avaliada a glicemia em jejum e no segundo trimestre (entre as 24 e 28 semanas e não antes, nem depois!) vão ter que beber 300 ml de um líquido docinho (tipo bola de berlim… só que não) que contém 75g de açúcar e a glicemia irá ser medida em jejum, 1h e 2h após a ingestão da mesma bebida.

As únicas grávidas dispensadas deste exame são as que têm diagnóstico prévio à gravidez de diabetes e as pacientes submetidas a cirurgia bariátrica.

E notem bem, escusam de dizer sistematicamente quando vos dou a requisição das análises do segundo trimestre: “ Tem aquele exame horrível, não é? Vamos ver se vou aguentar…”.  Primeiro na minha gravidez fiz o de 50g e adorei, entretanto tive que repetir o exame com 100g, desta vez não adorei, mas mantive-me firme porque sabia que se vomitasse tinha que o fazer de novo… e segundo se as outras conseguem, vocês também vão conseguir … as mães são capazes de tudo!

E se o resultado vier positivo?

Respirem fundo… e sorriam na mesma… vai correr tudo bem desde que corretamente orientadas!

Contem com um controlo mais apertado, com consultas e ecografias para avaliar o crescimento fetal e o liquido amniótico mais frequentes.

Vai ser aconselhado:

  • Dieta equilibrada, adaptada de acordo com as necessidades e gostos individuais por uma nutricionista
  • Se possível caminhada de 30 minutos após as três principais refeições
  • Medição da glicemia em jejum e 1h após o início das refeições. Esses valores são registados. O objetivo é ter em jejum valores inferiores a 95mg/dl e 1h após as refeições 140mg/dl

Se com estas medidas não forem alcançados valores dentro dos limites desejáveis será necessária introdução de medicação.

De bónus no pós-parto terão que repetir a prova de 75g cerca de 6 semanas após o parto, de modo a confirmar que as alterações no metabolismo do açúcar eram apenas relativas à gravidez e não Diabetes mellitus.

Em conclusão, tendo em conta que a maioria são detetadas entre as 24-28 semanas, digamos que vão ter umas 10-15 semanas de monitorização de glicemias e com uma dieta mais equilibrada… e depois vão puder curtir a vida toda o vosso bebé.

Não entrem em extremismos, e se estiverem na praia e ouvirem “ bola de berlim, bolinhas, bolacha americana”… se vos apetecer muito…comam uma … mas não digam a ninguém! 😉

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