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Lembrei-me que ainda não vos tinha falado sobre a amamentação, suas dificuldades e dicas.
A amamentação pode ser a melhor coisa do mundo, mas também pode ser uma fonte de stress e até depressão.
Estar informado e preparado pode ajudar a transformar esse momento num momento mágico, sem falar que um modo de alimentar o bebé superprático (o leite está sempre pronto e à temperatura ideal)…

Segue a conversa com a minha querida amiga Mimi, enfermeira parteira e mãe de 4…

  • Com que dificuldades devemos contar?

As dificuldades podem ser muitas. Apesar de se tratar de um processo fisiológico, na grande maioria das vezes, não é tão linear como os papás/mamãs sonham. A amamentação pode parecer algo instintivo, mas tem que ser treinado e só com prática é que surge a aprendizagem tanto do bebé como da mãe.

  • O que fazer para as ultrapassar?

Para ultrapassar as dificuldades nada melhor do que conhecê-las de antemão, assim não são apanhados desprevenidos. Para tal, é importantíssimo aprender sobre o assunto ainda na gravidez ou através de aulas de preparação para o nascimento ou através de livros e publicações (cuidados com as fontes) acerca deste assunto. A consciência de todo o processo e a motivação para amamentar são fundamentais para o sucesso da mesma.

  • O que podemos fazer na gravidez para estarmos mais preparadas?

Como referi anteriormente estudar sobre o assunto vai ser um grande trunfo. Mas como costumo dizer às minhas mamãs, se foram capazes de gerar um ser tão perfeito em que a única coisa que tiveram que fazer foi viver de forma saudável porque é que não haveriam de conseguir produzir leite e continuar a dar vida a esse mesmo ser? Pois é, todas somos capazes de amamentar, no entanto existem fontes de stress e de inibição que no processo de gravidez não interferem, mas que, na amamentação, podem prejudicar.
Por exemplo, iniciar a amamentação ainda na primeira hora de vida pode fazer a diferença para que todo processo seja tranquilo e se torne um sucesso. Nas primeiras horas, o bebé está bem desperto a tentar absorver a mudança que acabou de acontecer, caindo de seguida num sono profundo. Por isso, torna-se crucial iniciar a amamentação precocemente, pois nessa altura os reflexos de sucção e deglutição estão no seu auge, até porque naquele instante ele não vai “só” mamar de forma a se alimentar, vai mamar procurando conforto e segurança junto de quem ele consegue reconhecer (através do cheiro, voz, movimentos respiratórios, frequência cardíaca, …). É também importante referir que, nessa primeira hora, a mãe está sob o efeito de um aumento de ocitocina  e prolactina que vão facilitar a amamentação naquele instante e nos seguintes.

  • Qual o papel dos mamilos de silicone e os “tupperwares”?

Os mamilos de silicone podem ser úteis para as mães que tenham mamilos rasos ou invertidos. ( nota importante: se a amamentação estiver a correr bem com o auxílio destes não há motivos para deixar de usar, ok?). As conchas/arejadores de mamilos ou “tupperwares” podem ser funcionais para evitar lesões do mamilo.

  • E em relação a cremes… vale a pena?

Atualmente, existem várias gamas de cremes/bálsamos para colocar no mamilo. É importante hidratar esta parte do corpo, tal como hidratamos o restante corpo. E se pensarmos bem, ele bem que precisa de uma atenção redobrada porque vai ser exposto a tensões diferentes.

  • Na mamada … dar uma só mama, as duas? Começar pela última?

Bem, esta é uma das principais dúvidas… Então, numa primeira fase em que as mamas produzem apenas colostro, eu sugiro que façam as duas mamas para promover uma produção equitativa. E depois de ter acorrido a descida do leite, que decorre entre o 5ª/7º dia após o nascimento (nota importante: pode não ser evidente, e nem é vivenciado da mesma forma), sugiro que façam uma mama por completo e em seguida e se o bebé ainda quiser, ofereçam a outra. Sendo que devem começar a mamada seguinte naquela que o bebé não mamou ou que ficou a meio.

  • Quanto tempo pode demorar uma mamada?

Estudos demonstram que nos primeiros 15\20 min o bebé consegue extrair os nutrientes necessários, mas pode variar. O número de ductos de leite que saem do mamilo variam entre 4 a 18 (em média são 9) e isso pode interferir no tempo de mamada. Existem bebés que mamam em 10 min e ficam satisfeitos e outros que demoram 20 a 30 min. Como é que podemos saber se é suficiente o que estão a mamar?  Se:

  • conseguirmos ouvir o bebé a engolir
  • verificarmos leite no canto da boca
  • trocarmos a fralda 6 a 8 x/dia
  • tiver 2 a 3 dejecções /dia

E claro quando pesam o bebé na consulta do pediatra e este está a aumentar de peso.

  • O que fazer quando o bebé faz da mama chupeta?

Bem, o bebé pode estar a fazer da mama chupeta por estar a fazer uma má pega ou então porque já terminou de mamar e apenas fica no mimo junto à mãe. Temos que perceber o motivo, mas muitas vezes uma má pega pode levar a um aumento de produção de leite e depois resultar numa mastite…
Tem que se tentar perceber, isto da amamentação é um mundo e, por vezes, as respostas não são simples.

  • Concordas comigo que a chupeta e mesmo o biberão não são contraindicados?
    (pessoalmente adoro a chupeta e acho que faz jus ao seu nome em inglês- pacifier)

Concordo… Eu também sou apologista da chupeta, sorry! Tenho 4 filhos e o que seria de mim sem ela. Muitas vezes até sugiro que usem a chupeta numa fase inicial, quando o bebé tem os reflexos débeis ou descoordenados. É só a minha opinião, vale o que vale. 

  • Quando usar a bomba de extração de leite?

A bomba extratora pode ser utilizada por diferentes razões. Uma razão pode ser por excesso de produção de leite. Nesse caso a mamã tem necessidade de retirar o excesso de forma a ficar confortável, nunca esvaziando por completo. Outra poderá ser para aumentar a produção ou até porque prefere dar o seu leite por tetina. Como disse, as respostas acerca da amamentação são muitas e variadas…. sinto-me impotente porque existe um sem número de hipóteses.J

  • Dar de mamar… até quando?

Antes de dar essa resposta, quero que saibam que a resposta a dar de mamar é sim… mas só o devem fazer se for prazeroso para a mãe e para o bebé.  No que concerne o “até quando”, defendo que se possível até aos 6m (em exclusivo ou não) depois dessa idade fica no critério e no bem-estar de cada pessoa/dinâmica familiar.

  • Mais dicas?

Existe tanto, tanto para dizer acerca da amamentação, mas a principal ideia a reter aqui, tal como em tudo o resto na maternidade, é que o instinto materno tem sempre razão. O instinto de cada mãe é que está correto, lembrem-se que cada bebé é único e ninguém melhor do que a mãe para o conhecer.

Outra premissa importante é que inicialmente a mamã produz colostro e ésuposto ser em pequena quantidade e é suposto a mama continuar mole, a produção é compatível com o tamanho do estômago do bebé .

O colostro é altamente concentrado rico em proteínas e minerais, fornece ao RN defesas naturais (rico em imunoglobulinas) e tem uma ação laxante – promove a eliminação do mecónio.

O leite materno estás em constante mudança e é feito à medida do bebé. É rico em proteínas, gorduras e hidratos de carbono, tendo assim uma função imunológica, nutricional e de desenvolvimento.

Neste sentido, amamentar é um momento que vai marcar para sempre a ligação que se estabelece com os filhos, tornando aquele instante num momento de partilha e de amor recíproco. O “bonding” (união) que dali surge torna-se único e em poucos momentos na vida poderá repetir-se algo tão grandioso.

Por falar em “bonding”, obrigada por este convite espero ter sido útil a ajudar as suas grávidas que um dia também foram minhas e obrigada por mostrar que o que um dia criamos foi tão bom e forte que não há barreiras que nos separem.

PS: Obrigada eu Inês pela colaboração… um “bonding” verdadeiro dura para sempre…

Qualquer dúvida sobre amamentação perguntem no Instagram : Enf Parteira Inês Moura

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